“Uma tarde que nunca” abre com dois poemas sobre a chuva de janeiro, aguardada com ansiedade pelas crianças de Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Nas paisagens sensoriais de Marcos Nascimento, fruto de uma memória tão precisa quanto imaginativa, encontramos o som dos pingos nas canecas de alumínio, a tarde em que se olha o mapa-múndi, os dentes arremessados em cima dos telhados e a própria possibilidade de rememorar. Camila Pizzolotto recorre à sua experiência desse território para traduzir os poemas em que as crianças fogem dos bate-bolas, os helicópteros sobrevoam os prédios, as motos giram dentro do globo da morte e os “tamarindos doce-azedos/ deitam seus tapetes”. Justamente porque são singulares, cheios de personagens e detalhes, os poemas desencadeiam a memória da nossa própria infância. Com ironia e ternura, o livro adentra o mundo das crianças que, entre o medo e a brincadeira, o peso e a leveza, “sonham com criaturas/ gigantes”.
Marcos Nascimento (poemas), Camila Pizzolotto (imagens); Luiza Leite (edição); Tatiana Podlubny, Cecilia Costa (projeto gráfico)
Livro, 36 p, 12.5 x 21 cm, costurado. Impressão digital colorida sobre papéis Offset Alta Alvura 180 g/m2 (capa) e Pólen Bold 90 g/m2 (miolo). Composto na fonte Publica, de Gustavo Ferreira / Hipertipo.
